Quem sou eu

Um nome curioso com uma grafia pouco convencional, ele vem da memória infantil de uma brincadeira que desafia a criança a ficar quieta, mas na realidade leva ao desejo de provocar o outro até que ele se desconcentre e se perca em gargalhadas ou falas: “ Vaca amarela pulou a janela, fez cocô na panela, quem falar primeiro come toda sujeira dela.” E a grafia... coisa de avó numeróloga: juntar as duas palavras, subtrair um “a”, acrescentar um “l” ... tudo por uma energia mais vibrante! E se com mãe não se discute, imagina com avó.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Cabide de ideias - Senhorita Timothy

 
 

Simone Intrator
Todos os dias, eu me sinto como a Senhorita Timothy, a ovelhinha que protagoniza o livro "A viagem da Senhorita Timothy" (de Giovanna Zoboli), recém-lançado pela Pequena Zahar. Com a ovelha aconteceu assim: um dia ela passou a produzir uma lã muito feia. Seu dono, o senhor George, o maior e mais belo fazendeiro de Yorkshire, virou para ela e disse: "Senhorita Timothy, não a reconheço mais! A senhorita não é mais a senhorita! Sua lã está ficando cinza e toda cheia de nós. Se a senhorita não é mais a senhorita, é necessário que a senhorita se encontre. Senhorita Timothy, informo-a de que amanhã cedo sairá em busca de si mesma." E então, muito a contragosto, a Senhorita Timothy, que até esse momento do livro odeia viajar (porque depois ela descobre que viagens são uma das melhores coisas da vida!), sai por aí em busca de si mesma. E por que todos os dias me sinto como a Senhorita? Porque quase sempre não me reconheço, acordo muito diferente, e saio numa viagem em busca de mim mesma. Não pensem que sempre me encontro... Algumas viagens são longas e difíceis. Outras, mais curtinhas e prazerosas. E delas surgem tantas Senhoritas Simones.

A Senhorita Timothy, no entanto, não partiu só, não. Com ela, foram as outras 99 ovelhas do senhor George. Porque... você já viu uma ovelha andando por aí sozinha?

Eu já, e foi a ovelhinha de um livro que eu amo e que vocês não podem perder: "Maria vai com as outras" (Editora Ática), da grande e majestosa Sylvia Orthof.

Maria vivia entrando em furadas porque andava sempre a seguir as outras ovelhinhas. Se todas iam pro deserto, lá ia ela, e voltava com insolação. Se iam pro Polo Sul, lá ia Maria, e voltava resfriada. Um dia ela pensou, enquanto suas amigas devoravam uma salada de jiló, e ela comia aquilo muito a contragosto: se eu não gosto de jiló, por que tenho que comer jiló? Até que um dia esse pensamento cresceu dentro dela, ela se desgarrou do rebanho e foi viver a sua vida.

Eu, criança, era a maior maria vai com as outras e sempre ouvia da minha mãe: "Se fulano comer cocô, você vai comer também?" Mas nenhum amigo meu comia cocô, então eu achava aquela frase dela muito surreal. Até que minha mãe me deu o livro. E eu entendi tudinho. E li o livro -- o meu, todo rabiscadinho com a minha letra redondinha de quando eu era bem pequena -- pros meus filhos, Marina e Rodrigo; pra minha afilhada Juju. e ainda emprestei pras turmas da escola. E não é que a professora do primeiro ano do Rodrigo um dia o flagra falando para um amigo: "Se ele comer cocô, você vai comer também?" Essa frase não está no livro!

Gostaram das dicas? Conta pra mim um livro de que você tenha gostado, que queira indicar...

 
Simone Intrator é jornalista, publica a coluna Sopa de Letras, sobre livros infantis, aos sábados no Globinho, do Globo, e adora ler. Devora tudo o que passa na sua frente: livros, revistas, receitas, jornal, bulas de remédio, guias, chocolates e brigadeiros. Sua filha chama-se Marina porque ela também adora o mar. Seu filho chama-se Rodrigo, uma homenagem singela a seu personagem preferido, o Capitão Rodrigo, de "Um certo Capitão Rodrigo", do grande Erico Verissimo.
 
 
 





 

 

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