Quem sou eu

Um nome curioso com uma grafia pouco convencional, ele vem da memória infantil de uma brincadeira que desafia a criança a ficar quieta, mas na realidade leva ao desejo de provocar o outro até que ele se desconcentre e se perca em gargalhadas ou falas: “ Vaca amarela pulou a janela, fez cocô na panela, quem falar primeiro come toda sujeira dela.” E a grafia... coisa de avó numeróloga: juntar as duas palavras, subtrair um “a”, acrescentar um “l” ... tudo por uma energia mais vibrante! E se com mãe não se discute, imagina com avó.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Raimundo

 


 


Simone Intrator
Raimundo é um menino diferente.  Não só porque se chama Raimundo (uma homenagem a seu avô), mas também, porque, mesmo só tendo 12 anos, é careca. Ser careca e se chamar Raimundo não é nada fácil, concordam? Raimundo é careca porque faz um tratamento chamado quimioterapia, contra uma doença que ele tem, um tipo de câncer. Mas olhem que sorte: uma formiguinha, um personagem de um livro igualzinho a ele e um montão de amigos ajudam o nosso herói a dar a volta por cima.
 
A formiguinha que frequenta o micro-ondas da casa de Raimundo ajuda o menino a enfrentar a doença porque ele criou uma história para ela depois que a viu saindo viva da máquina quente: a bichinha entra no micro de um jeito e sai dele com superpoderes, com o corpo todo musculoso, dando uma surra na barata, com a força de mil formigas. Raimundo gosta de se imaginar saindo assim da ressonância magnética, parte do tratamento dele contra o câncer.
O livro que tem um personagem igual a Raimundo foi a enfermeira que conta histórias no hospital que apresentou para as crianças. É uma publicação muito antiga de um escritor muito famoso (Graciliano Ramos): "A terra dos meninos pelados". Nessa terra, um lugar chamado Tatipirum, todos os meninos e as meninas tinham a cabeça raspada. Para completar, o protagonista também se chama Raimundo e também se sentia diferente de todo mundo até chegar à terra dos meninos pelados.

Depois de conhecer essa história, e de ganhar um pouco mais de coragem aqui e e acolá, o nosso Raimundo postou uma foto sua na internet e contou para as pessoas que estava doente. Alice e Pedrão (seus pais) foram os primeiros a curtir! E depois mais um montão de gente (eu também!) curtiu.  Com isso Raimundo foi se sentindo melhor.
Ele se sentindo melhor, eu também me senti (Alice e Pedrão também). E aí dei um sorrisão ao ver que lá na última página de "Se eu não me chamasse Raimundo" (Globinho), do maravilhoso autor Ricardo Filho (neto de verdade de Graciliano Ramos), os cabelos de Raimundo poderão ser novamente cacheados. E ele voltará à escola, correrá de novo como antes sem se cansar e a vida será ainda mais colorida. E ele, ahá, nem sabe, mas eu e você sabemos: Raimundo sempre foi nosso super-herói.

 
Simone Intrator é jornalista, publica a coluna Sopa de Letras, sobre livros infantis, aos sábados no Globinho, do Globo, e adora ler. Devora tudo o que passa na sua frente: livros, revistas, receitas, jornal, bulas de remédio, guias, chocolates e brigadeiros. Sua filha chama-se Marina porque ela também adora o mar. Seu filho chama-se Rodrigo, uma homenagem singela a seu personagem preferido, o Capitão Rodrigo, de "Um certo Capitão Rodrigo", do grande Erico Verissimo.