Luciana Lessa |
É necessário,
mais que necessário,
antes de
falar sobre jardins, plantas e afins
apresentar,
mesmo que brevemente,mesmo de uma forma que de todo não a contemple,
aquela que sabe,
sem nem saber que sabe,
que todos
os MISTÉRIOS - insondáveis, grandes e
intrigantes –,
assim como
fazem do Universo moradia,vivem também pelos cantinhos de seu jardim em indisfarçada euforia.
Como na
sementinha pequenina, mansinha deitada na terra
que um dia
desperta e diz: - PARA MIM EU QUERO MAIS!
e rompe seu
claustro, depois rompe a terra
e, vaidosa
de seu esforço descomunal,
conta, espichando-se
em direção ao sol da manhã,
que da
estrela nova, que há pouco nasceu no espaço sideral, é prima-irmã!
Pois bem,
aquela que sabe disso tudo se chama TEREZINHA
Terezinha já
nasceu velhinha...
afinal quem
dá este nome a uma menininha?
Quem deu foi
Olga sua mãee com uma razão: pela Santa Terezinha ela tinha devoção.
Terezinha, a
menina velhinha, cresceu na fazenda
junto com
seus quinze irmãos,
mas um dia
sua mãe ficou doentinha...
[era uma
outra época...os médicos não sabiam o que ela tinha]
um tempo depois, Olga, deitada na cama do
hospital,
recebeu de uma visita um buquê de rosas e
entendeu o sinal.
Chamou
Terezinha para conversar: - minha filha a santa veio me buscar.
E assim
aconteceu: com as rosas ao seu lado, Olga fechou os olhos e se deixou levar.
A partir de
então, Terezinha, a menina velhinha
procurou em
entender a flor e sua singular comunicação.Caminha todos os dias em seu jardim
e, enquanto
trabalha regando aqui e ali, escuta o tititi sem fim.
É a briga do
manjericão com o orégano
e os
suspiros apaixonados do antúrio pela azaleia...
Tem o boca-de-leão dizendo é soberano por
equiparação,e o lírio-da-paz advogando que não! Que o jardim é uma república e tem até constituição!
A violeta
reclamando que a orquídea só vive com o nariz empinado
e a outra respondendo:
- o que é bonito é para ser admirado!
Enquanto a
roseira morre de rir com o tatu bola que lhe faz cócegas ao subir,
Terezinha
para ao seu lado e lhe diz: - é de você que eu mais gosto e a que mais me faz feliz!
E Terezinha, que nasceu uma menina velhinha,
hoje, com 86
anos, é uma senhora menininha!
Luciane Lessa é formada em Direito. Procurando o ofício que lhe cabia neste mundo fez muitas coisas: foi conciliadora de Juizado Especial, trabalhou no Exército, adestrou cães, teve restaurante vegetariano orgânico, foi mobilizadora comunitária... Até que um dia estalou e percebeu que, mesmo com tantas coisas diferentes, os trabalhos tinham algo em comum: todos eles se alimentavam da paixão que a acompanhava desde a infância – as palavras. A partir daí aquietou seu coração e concentrou sua dedicação às suas velhas amigas.
Tem outra coisa que acompanha Luciane desde criança: o (fabuloso!) jardim de sua (fabulosa!) avó Terezinha. São as histórias deste jardim que ela quer contar para quem quiser ouvir.
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