Quem sou eu

Um nome curioso com uma grafia pouco convencional, ele vem da memória infantil de uma brincadeira que desafia a criança a ficar quieta, mas na realidade leva ao desejo de provocar o outro até que ele se desconcentre e se perca em gargalhadas ou falas: “ Vaca amarela pulou a janela, fez cocô na panela, quem falar primeiro come toda sujeira dela.” E a grafia... coisa de avó numeróloga: juntar as duas palavras, subtrair um “a”, acrescentar um “l” ... tudo por uma energia mais vibrante! E se com mãe não se discute, imagina com avó.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Terezinha e seu jardim misterioso




Luciana Lessa

 

É necessário, mais que necessário,
antes de falar sobre jardins, plantas e afins
apresentar, mesmo que brevemente,
 
mesmo de uma forma que de todo não a contemple,
 
aquela que sabe, 

sem nem saber que sabe,

que todos os  MISTÉRIOS - insondáveis, grandes e intrigantes –,
assim como fazem do Universo moradia,

vivem também pelos cantinhos de seu jardim em indisfarçada euforia.

Como na sementinha pequenina, mansinha deitada na terra
que um dia desperta e diz: - PARA MIM EU QUERO MAIS!

e rompe seu claustro, depois rompe a terra
e, vaidosa de seu esforço descomunal,

conta, espichando-se em direção ao sol da manhã,
que da estrela nova, que há pouco nasceu no espaço sideral, é prima-irmã!
 

Pois bem, aquela que sabe disso tudo se chama TEREZINHA
Terezinha já nasceu velhinha...

afinal quem dá este nome a uma menininha?
Quem deu foi Olga sua mãe

e com uma razão: pela Santa Terezinha ela tinha devoção.


Terezinha, a menina velhinha, cresceu na fazenda
junto com seus quinze irmãos,

mas um dia sua mãe ficou doentinha...
[era uma outra época...os médicos não sabiam o que ela tinha]

um tempo depois, Olga, deitada na cama do hospital,
recebeu de uma visita um buquê de rosas e entendeu o sinal.

Chamou Terezinha para conversar: - minha filha a santa veio me buscar.

E assim aconteceu: com as rosas ao seu lado, Olga fechou os olhos e se deixou levar.


A partir de então, Terezinha, a menina velhinha
procurou em entender a flor e sua singular comunicação.

Caminha todos os dias em seu jardim

e, enquanto trabalha regando aqui e ali, escuta o tititi sem fim.
É a briga do manjericão com o orégano

e os suspiros apaixonados do antúrio pela azaleia...
Tem o  boca-de-leão dizendo é soberano por equiparação,

e o lírio-da-paz advogando que não! Que o jardim é uma república e tem até constituição!

A violeta reclamando que a orquídea só vive com o nariz empinado
e a outra respondendo: - o que é bonito é para ser admirado!

Enquanto a roseira morre de rir com o tatu bola que lhe faz cócegas ao subir,
Terezinha para ao seu lado e lhe diz:

 - é de você que eu mais gosto e a que mais me faz feliz!
 

 E Terezinha, que nasceu uma menina velhinha,
hoje, com 86 anos, é uma senhora menininha!

 
 

Luciane Lessa é formada em Direito. Procurando o ofício que lhe cabia neste mundo fez muitas coisas: foi conciliadora de Juizado Especial, trabalhou no Exército, adestrou cães, teve restaurante vegetariano orgânico, foi mobilizadora comunitária... Até que um dia estalou e percebeu que, mesmo com tantas coisas diferentes, os trabalhos tinham algo em comum: todos eles se alimentavam da paixão que a acompanhava desde a infância – as palavras. A partir daí aquietou seu coração e concentrou sua dedicação às suas velhas amigas.
Tem outra coisa que acompanha Luciane desde criança: o (fabuloso!) jardim de sua (fabulosa!) avó Terezinha. São as histórias deste jardim que ela quer contar para quem quiser ouvir.

 
 
 

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